23 de fevereiro de 2010

Tenho que despir-me das últimas peças de preconceito que ainda me restam.
Preconceito que afeta, tão e somente, a mim.
Tenho que afastar os últimos resquícios de tristeza.
Abrir a janela do intelecto e deixar que o ar dançante entre e limpe os espaços vazios que estão entre um pensamento e outro.
Rabiscar mais folhas em busca de um rabisco coerente.
Repassar os planos em voz baixa antes de abrir a porta.
Dobrar os papéis com calma, fechar os olhos com calma.
Inspirar, respirar, me inspirar.

E começar a praticar todos os conselhos que eu dou.

11 de fevereiro de 2010

O mal do poeta é não saber dizer o que sente.
Consegue ele revelar apenas às páginas virgens e mudas, os seus nobres sentimentos, suas mais profundas tristezas e seus mais espontâneos pensamentos.
Ao terminar de contá-los encara suas ouvintes, as folhas.
E estas, já não sendo mais virgens, são igualmente mudas.
Segue o poeta, a suspirar, a crispar os lábios ou até mesmo a mordê-los, quando por mais de uma vez, seus sentimentos o avassalam, cobrando-lhe a liberdade, cheios de rebeldia e odiantes do anonimato.
Não saberá o poeta que os sentimentos são livres?
Tão livres que não obedecem e muito menos recuam se alguém não os aceita.
Tão livres que não vêm quando os querem, quando os chamam, quando fazem preces por eles.
Se o poeta libertá-los, tornar-se-á tão livre quanto um sentimento.
Para isso terá o poeta de livrar-se do terrível medo que sente.
Algo tão ou mais difícil que tentar esconder para si um sentimento.

E sem saber ao que sucumbir ele chora, molhando as folhas, que em silêncio e de propósito borram as confissões do poeta.