15 de março de 2015

   
       Quando eu era criança chegava a noite e não tinha mais o que fazer, vinha o tédio. Já tínhamos chegado da escola, assistido à televisão, jantado, brincado na rua, tomado banho e era hora da novela da mãe, reinava o silêncio.
     Lembro que em uma dessas ocasiões silenciosas, ouvi um canto de um pássaro, contínuo, desesperado - "Mãe por que só tem um pássaro voando uma horas dessas no escuro?" - "Ele deve ter se perdido do bando" - dizia a minha mãe. 
     Eu logo me enternecia e caia em grande tristeza por essa ave, voando sozinha, sem sua família, na escuridão, sem saber onde pousar para descansar, gritando na esperança de ser ouvida e resgatada.
     Tempos mais tarde quando meu pai faleceu eu me senti como aquela ave, e ainda hoje, meu maior medo é esse: me sentir perdida, sozinha e sem direção, e como sou humana e não ave - sem chão.
     

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